A Guitarra Clássica já viveu muitos momentos de
glória, mas, de acordo com a opinião de fabricantes e revendedores, por
razões diferentes e com efeitos práticostambém diversos. Ao analisar o
que eles dizem, parece que o entusiasmo guitarrístico dos anos 60 foi
algo realmente muito difundido, mas superficial. Não havia um profundo
e real interesse. De facto, grande parte dos compradores procurava
apenas o instrumento mais económico (e por força de uma série de
circunstâncias, o de mais baixa qualidade). Uma guitarra "só para
experimentar" e, depois, pendurar numa parede, sem grandes
preocupações. Nos dias que correm percebe-se novamente um aumento do
interesse em relação a este instrumento, talvez por razões mais sérias e
profundas, o que torna a compra um gesto menos casual, mais pensado. Por
isso mesmo, é oportuno dar alguns conselhos práticos que sirvam de
orientação para os que quiserem comprar uma guitarra, levando em conta
as exigências e a disponibilidade económica de cada um. Antes de mais,
não se pode esquecer que, no que se refere à guitarra acústica, a
avaliação deve ser feita caso por caso, até entre instrumentos de mesma
marca e modelo. A arte de fabrico de guitarras é antiga e tipicamente
artesanal, embora, hoje em dia, nos modelos mais populares a elaboração
seja, em boa parte, mecânica.
A fabricação
de guitarras depende de uma série de variáveis: escolha e envelhecimento
das madeiras, espessura da camada de verniz, grau de curvatura do braço
(que, segundo alguns fabricantes, não deve ser reto, mas levemente
arqueado) e altura do cavalete em que se prendem as cordas. Cada um
destes elementos tem um peso determinante para o perfeito equilíbrio do
instrumento. Portanto, depois de optar pela marca e modelo que mais se
adaptam às suas exigências, escolha a sua guitarra entre certo número de
exemplares.
A
afinaÇÃo
Uma vez com
uma guitarra nas mãos, comece por avaliar a sua afinação. O sistema
empírico mais simples é controlar os "harmónicos" naturais na 12.ª casa
e as mesmas notas com a corda pressionada. O harmónico é obtido da
seguinte forma: apoie levemente o dedo sobre qualquer corda,
exatamente no 12.º trasto. Sem pressioná-la. Em seguida, toque-a e
deixe-a vibrar, retirando o dedo que se apoiava nela, rapidamente.
Confronte, então, o harmónico com o som obtido pela pressão da corda na
12.ª casa: as duas notas devem estar afinadas, (com a mesma altura).
Repita a operação com todas as outras cordas.
A TENSÃO
Importante
também é o controlo da tensão, isto é, da dificuldade que há em
pressionar as cordas em relação a sua distância da escala. Esse controle
é ainda mais empírico - testa-se diretamente tocando qualquer acorde,
porque a distância das cordas da escala e o relativo esforço para
pressioná-las são factos subjetivos. Muitas vezes trata-se de uma
característica que varia de modelo para modelo e de um fabricante para
outro. Mesmo que algum professor famoso não esteja de acordo, tomamos a
liberdade de aconselhar ao guitarrista novato uma tensão média, que não
canse a mão em pouco tempo nem a force a assumir posições incorretas
decorrentes do esforço excessivo.
O
BRAÇO
A distância
entre as cordas e a escala depende do grau de curvatura do braço, que,
conforme já dissemos, não é necessariamente reto. É bem verdade que uma
curvatura excessiva, para a frente ou para trás, constitui um defeito
de fabrico que influi, até mesmo, na afinação e na tensão do
instrumento, pois acaba alterando suas proporções. Assim é que o
primeiro sintoma de um braço malfeito pode ser detetado tanto pelo
teste dos harmónicos quanto pela sensação de excessivo esforço (braço
curvado para a frente), ou de demasiada facilidade (curvado para trás)
ao pressionar as cordas. Além dessa avaliação superficial, pode-se
controlar a curvatura pressionando o mi baixo sobre a primeira casa e,
ao mesmo tempo, sobre a 14.ª (ou 15.ª) casa. (A operação deve ser
repetida com todas as cordas.) A corda, nessa situação, deverá tocar
todos os trastos compreendidos entre as referidas casas. No ponto
intermediário entre elas, tolera-se - e para algumas escolas é
necessária - uma distância de cerca de meio milímetro em relação ao
trasto. Acima ou abaixo dessa medida, o braço deve ser considerado
defeituoso, por excessiva curvatura para a frente ou para trás. E é
preciso levar em consideração que, a guitarra convencional, o braço não
dispõe da haste metálica de regulaÇÃO interna, existente nas guitarras
elétricas. Portanto, uma curvatura demasiada acentuada, é um defeito
que dificilmente será sanado. Além disso, o custo para tal reparo é
muito elevado.
O braço pode
apresentar inconvenientes até mesmo no que diz respeito a sua inclinação
relativa à caixa de ressonância. Nesse caso, além de o defeito ser
detetado com uma simples observação do paralelismo entre as cordas
extremas, a prova dos harmónicos é determinante.
A MADEIRA, o VERNIZ, as CRAVELHAS
A madeira é um
material vivo e, portanto, em contínua adaptação, mesmo depois de
transformada num instrumento musical. Assim, além dos possíveis
defeitos de fabricação, convém estar atento para eventuais acidentes,
como a expulsão dos trastos, que ficam levantados da escala; ou a
excessiva convexidade (uma curvatura suave é normal) da parte do tampo
situada atrás do cavalete, por força da tração das cordas. Essa
convexidade em excesso é indício de uma inclinação para a frente da peça
em que se prendem as cordas, e isso influi, entre outras coisas, na
afinação do instrumento.
No que se refere
às cravelhas (carrilhões ou tarraxas), isto é, aos mecanismos que
esticam e afrouxam as cordas, é necessário que a sua ação seja suave e
gradual; do contrário, a afinação correta do instrumento será tarefa
extremamente difícil.
Os instrumentos
revestidos por camadas muito densas de verniz devem ser evitados, pois
isso muitas vezes compromete a sonoridade. Vale lembrar ainda que,
quando usado com frequência, a guitarra adquire maior volume sonoro e
modifica o timbre à medida que a madeira envelhece.
UMA
GUITARRA PARA TODOS
Portugal já
possui longa tradição no fabrico de guitarras. Os interessados em
adquirir um bom instrumento não necessitam recorrer a marcas
estrangeiras.
Entre nós, a
construção do instrumento é, sobretudo, em moldes artesanais. Noventa
por cento de uma guitarra é feita manualmente. Apenas a serragem da
madeira é executada por máquinas especializadas. E aqui são produzidos
os mais variados modelos, que atendem a todos os gostos e bolsos. Desde
os mais rudimentares, destinados aos estudantes - os mais vendidos -,
até aos mais sofisticados, procurados pelos concertistas, construídos
com materiais de excelente qualidade e submetidos a rigorosos testes
especiais.
ESCOLHA DAS CORDAS
Tomada a
decisão de substituir as cordas, é comum depararmo-nos com dificuldades
frente à fatídica questão que o comerciante nos apresenta: "Mas que
tipo de corda você deseja?". Antes de mais nada, é bom deixar de lado as
mais baratas - seria uma economia enganosa. E não se pode errar na
escolha, pois, ao adquirir cordas não adequadas às exigências do
instrumento, corre-se o risco de danificá-lo.
A primeira
distinção, fundamental para o bom desempenho do instrumento, deve ser
feita entre cordas de nylon e de metal (entre nós estas últimas são
chamadas genericamente de cordas de aço, apesar da diversidade dos
metais empregados). Na guitarra clássica convém usar exclusivamente
cordas de nylon.
De facto, esse
delicado instrumento não foi construído para suportar a forte tensão
produzida pelas cordas de aço. O cavalete poderia soltar-se, ou - pior
ainda - a caixa de ressonância e o braço poderiam sofrer deformações,
com danos muito graves para o instrumento. E, neste caso, um conserto
seria algo muito complexo e, sem dúvida, dispendioso.
Na guitarra de
folk, ao contrário, aconselha-se colocar cordas de metal. A estrutura
desse instrumento é mais resistente e concebida em função desse tipo de
corda. O braço é reforçado, no seu interior, por uma barra em liga de
aço, que contrabalança a tensão das cordas.
Essa torção pode
ser modificada aparafusando-se ou desaparafusando-se (muito pouco, pois
os sulcos do parafuso são relativamente curtos) a extremidade superior
da barra, escondida por uma pequena chapa na base da cabeça do
instrumento. Em alguns modelos, a extremidade da barra fica exposta no
ponto de junção entre o braço e a caixa de ressonância. Pode-se, assim,
corrigir a curvatura do braço. Mas, nos casos mais graves, é melhor
procurar um especialista para não correr o risco de danificar
definitivamente o instrumento. A guitarra de doze cordas tem, em
geral, uma barra dupla, pois a tensão exercida pelas cordas agudas é
muito diferente da exercida pelas cordas graves. Com base nas
considerações feitas até aqui, fica evidente que as cordas de nylon não
danificariam uma guitarra folk. Mas com esse tipo de corda não se
obteria um rendimento sonoro adequado, nem o timbre brilhante
característico desse instrumento. Também na guitarra eléctrica deve-se
utilizar cordas de metal; o seu braço é reforçado como o da guitarra
folk.
CORDAS DE NYLON
Num jogo de
cordas para guitarra clássica, uma primeira distinção deve ser feita
entre as cordas agudas e as graves. As primeiras são formadas por um
único filamento de nylon, às vezes coberto por uma fina camada de
plástico. A qualidade desse tipo de corda depende da homogeneidade do
material e da perfeita secção circular e sempre igual em todo e qualquer
ponto. Alguns tipos de corda têm a superfície opaca, esmerilada, para
impedir que os dedos escorreguem. Outros são pintados de preto por meio
de um tratamento químico/físico que lhes proporciona determinadas
qualidades sonoras.
Já as cordas
graves têm a parte interna composta por finíssimos filamentos de nylon,
recobertos por um fio metálico enrolado em espiral. O tipo do metal -
uma liga de ouro, prata ou bronze - influi na qualidade do som. As
cordas de nylon praticamente suplantaram as de tripa - e as de seda e
metal para os baixos -, utilizadas até as primeiras décadas de nosso
século.
Cordas de metal
As cordas de
metal tipo roundwound usadas na guitarra são formadas por um filamento
feito de uma liga especial de aço, revestido por um fio fino, também
metálico, enrolado em espiral (exceção para as duas cordas mais agudas
- três nos jogos de tipo "leve" -, que não são revestidas). Como nas
cordas graves de nylon, aqui também o metal empregado para revestimento
(cobre, bronze, latão ou níquel) influi na qualidade do som. As cordas usadas
em guitarras elétricas são semelhantes às anteriores; todavia, na sua
parte interna utilizam-se, de preferência, metais pouco magnéticos, tais
como o latão, o bronze ou o cobre, ao invés do aço. Há também as cordas
do tipo flatwound, em que o revestimento é mais (ou menos) lixado, ou
se constitui de um filamento achatado - uma espécie de fita -, enrolado
em espiral. O som resultante é opaco, de menor brilho, mas as cordas são
mais confortáveis para se tocar. E são as preferidas nos casos em que
se quer eliminar o ruído dos dedos deslizando ao longo da escala, como,
por exemplo, nos estúdios de gravação. As cordas flatwound são feitas
(com ligeiras diferenças) tanto para a guitarra clássica como para
guitarra eléctrica. Por isso mesmo é preciso ter cuidado para não as
trocar por engano. Assim se evitam estragos pela tensão inadequada.
Cordas de "seda e aço”
Trata-se de um
tipo de corda que está a meio caminho entre as de nylon e as de metal.
Tanto no que diz respeito à tensão quanto à sua constituição. As mais
agudas são feitas de aço leve, não revestido. Já as graves têm a parte
interna de aço e nylon (ou raiom ou seda) revestida por um filamento
prateado, em espiral. Macias e dotadas de um som, excelente, as cordas
de seda e aço são muito adequadas para a guitarra folk, sendo arriscado
usá-las numa guitarra clássica.
O
"peso" das cordas
Outro importante
elemento a ser considerado no momento da escolha, tanto para as cordas
de nylon como para as de metal, é seu "peso". Ele determina a tensão das
cordas, depois de montadas no instrumento. Este "peso" não é outra
coisa senão o diâmetro da corda (gauge, em inglês). As cordas "leves " (fight
gauge) são as mais finas. Alcançam a afinação correta com uma tensão
relativamente baixa, o que confere suavidade ao toque. São as mais
adequadas aos principiantes e também aos guitarristas de blues, que
muitas vezes "empurram" as cordas nos trastos, para obter alguns
efeitos característicos desse género de música. O som, no entanto,
resulta menos rico e intenso em relação ao obtido pelas cordas mais
pesadas. Além disso, se a escala não estiver em perfeitas condições, é
bem provável que as cordas leves incomodem. As cordas "pesadas" (heavy
gauge), ao contrário, produzem um som rico, pleno, intenso, e mantêm
facilmente a afinação. São indicadas para a guitarra base, com palheta,
e para o rock. As cordas pesadas de nylon são, sem dúvida, mais
adequadas do que as leves para um concerto de guitarra clássica. Um
tanto duras de se pressionar, as cordas pesadas requerem muita técnica
na mão esquerda. Além disso, é preciso ter certeza de que o instrumento
é suficientemente sólido a ponto de suportar a tensão. Na dúvida, é
melhor optar pelas cordas do tipo "médio". Cada fábrica tem seu conceito
subjetivo de "peso". Assim, ao mudar a marca das cordas, é bom
mencionar diretamente o diâmetro, que aparece impresso nas embalagens,
em vez de se orientar pelas denominações "pesada", "leve" ou "média".
A QUALIDADE DO SOM / PREÇO
Numa loja de
instrumentos musicais deparamo-nos com uma grande variedade de preços de
guitarras, que à primeira vista são todas iguais! Diferindo nos tons das
cores das madeiras, de que são construídas. Um guitarrista com alguma
experiência nota que o timbre é diretamente proporcional à qualidade de
som e o preço, ou seja, quanto mais cara, melhor é o timbre do
instrumento, (salvo vendedores desonestos que poderão colocar preços
semelhantes em instrumentos diferentes)!!!. Regra geral uma boa
guitarra, de conserto, demora meses e por vezes anos a construir,
havendo um grande cuidado na seleção e aplicação de: colas, vernizes,
qualidade das madeiras, tempos de secagem, etc.. Uma guitarra tem
vários tipos de madeira na sua constituição, a madeira da parte da
frente deve ser porosa de modo a permitir uma maior saída de som para a
frente do músico, ao contrário da madeira de trás, que deve ser opaca de
modo a impedir que o som venha para trás da caixa de ressonância da
guitarra…
Texto
RECOLHIDO e adaptado a partir da internet e de um artigo publicado por: Claudia
Gallone |